segunda-feira, 20 de maio de 2024

Francisco José Borges: de Minas Gerais para Bom Jesus do Itabapoana, RJ

Igreja de Santo Amaro, Queluzito, MG, onde Francisco José Borges foi batizado. (1)

Dando seguimento aos nossos estudos, apresentamos a pesquisa histórica sobre o ancestral comum da família Borges de Bom Jesus do Itabapoana, FRANCISCO JOSÉ BORGES. Completam-se, esse ano, 165 anos da chegada desse patriarca ao antigo arraial do Sr. Bom Jesus do Itabapoana, à época freguesia de Natividade de Carangola, distrito de Santo Antonio de Guarulhos, município de Campos dos Goitacazes, RJ.

APRESENTAÇÃO

No primeiro estudo (Veja aqui) contamos sobre a origem açoriana da família, a partir de Francisco Lourenço Borges, que nasceu na Ilha Terceira, nos Açores, PT, veio jovem para o Brasil e casou em 1798 com a mineira Ana Rosa de Jesus. Tropeiro, estabeleceu-se na freguesia de Queluz, MG, hoje Conselheiro Lafaiete, onde faleceu em 1824, como grande fazendeiro da região. Seis dos onze filhos do casal se casaram com filhos do Cap. José Ferreira de Souza e Vicência Joaquina da Silva, evidenciando uma forte ligação entre as famílias: (2) 
FRANCISCO nasceu em Minas Gerais e migrou em meados do século XIX para a Província do Rio de Janeiro, estabelecendo-se em Bom Jesus do Itabapoana, consolidando vida e família no noroeste fluminense.
Casou três vezes: Primeiro em Queluz, MG, com GERTRUDES JOAQUINA DA SILVA, falecida no Espírito Santo do Pomba, MG, em 1854. Segunda vez com ANA ROSA TEIXEIRA, falecida em Bom Jesus do Itabapoana em 1864. Casou terceira vez com MARIA CAROLINA DE OLIVEIRA, natural de Patrocínio de Muriaé, MG, falecida em Bom Jesus do Itabapoana, em 1906. Teve cerca de 21 filhos dos três casamentos, que deixaram uma descendência numerosa na região do Vale do Itabapoana. Faleceu por volta de 1876. Francisco e Carolina são meus trisavós maternos. Francisco é também meu 5º avô materno, por seu casamento com Gertrudes. Francisco e Gertrudes são os trisavós maternos de Maria Cristina Borges, prima e parceira nestas pesquisas.
Apresentando fontes primárias, em especial os inventários de Gertrudes e Ana Rosa, que nos ajudaram a esclarecer sua descendência, este estudo tem o objetivo de mostrar o que conseguimos, até o momento, eu e a prima Maria Cristina Borges, parceira nas pesquisas, sobre Francisco José Borges e família, resgatando e preservando a memória de nossa família.


I - FRANCISCO JOSÉ BORGES 

Natural de São Caetano de Paraopeba, distrito de Queluz, atualmente cidade de Conselheiro Lafaiete, MG, Francisco José Borges é filho legítimo do açoriano Francisco Lourenço Borges e da mineira Ana Rosa de Jesus, nascida no Carandaí, batizada na Capela de N. Sra. da Glória, Prados, MG (2). Neto paterno dos açorianos Antonio Vieira de Andrade e Joana Antonia. Neto materno do português Alferes Bento José Pereira e Teresa Umbelina de Jesus, mineira de Prados, MG. (3)

Francisco foi batizado aos 9 de junho de 1806, na Capela de Santo Amaro, filial da Matriz de N. Sra. Conceição, hoje Queluzito; foram seus padrinhos o tio materno Domingos da Cunha Lopes e sua mulher Ana Joaquina Diniz. O Registro de Batismo de Francisco José Borges está guardado no Arquivo da Cúria Arquidiocesana de Mariana, como segue:

“Aos nove de junho do ano de mil oitocentos e seis na Capela de Santo Amaro, filial desta Matriz de Nossa Senhora da Conceição da Real Vila de Queluz, o Capelão da mesma Gregório João da Cruz batizou e pôs os santos óleos a Francisco, párvulo, filho legítimo de Francisco Lourenço Borges e Anna Rosa de Jesus. Foram padrinhos Domingos da Cunha Lopes e sua mulher Anna Joaquina Diniz, todos desta Freguesia. Para constar, fiz este assento que assino. O vigário Fortunato Gomes Carneiro.”

Tropeiros. Rugendas.

Em 1824, quando o pai morreu (4), Francisco tinha 18 anos. O jovem tropeiro vivia parte de sua vida na fazenda em Queluz e em outros momentos estava em viagem, conduzindo tropas e transportando gêneros para outras Províncias, principalmente para o Rio de Janeiro, pela estrada geral de Minas a Campos de Goitacazes. 

Livro de registro de saída de gêneros de Barra do Pomba. 
Memória sobre a economia extrativa da poaia – leste de Minas Gerais, de Márcio Xavier Correa. 

Aos 23 anos, no dia 05 de julho de 1829, o encontramos passando pela Barra do Pomba com destino à Vila de São Salvador, em Campos dos Goitacazes, levando um carregamento de 25 arrobas de toucinho. No dia 04 de setembro do mesmo ano faz nova viagem à Vila de São Salvador, levando desta vez uma carga de 15 arrobas de toucinho. (5)


Chama atenção o fato de encontrarmos na mesma época e trajeto, transportando cargas em tropas, Miguel Correia Leite (15.08.1825, 40 arrobas de toucinho para a Vila de São Salvador) e Francisco Teixeira de Siqueira (11.07.1826, 48 cabeças de gado e 10 arrobas de toucinho para a Vila de São Salvador), cujos filhos, Antonio Joaquim Leite e Antonio Teixeira de Siqueira, se tornariam genros de Francisco. É possível que nesse período, em suas andanças, já conhecessem os caminhos que cortavam o Vale do Itabapoana, para onde muitos da região de Pomba se estabeleceriam mais tarde.

II - 1º CASAMENTO - FRANCISCO JOSÉ BORGES E GERTRUDES JOAQUINA DA SILVA

Capela N. Sra. da Lapa de Olhos D'Água, onde Gertrudes foi batizada e se casou com Francisco José Borges. Foto Emerson Resende. Panoramio.

FRANCISCO JOSÉ BORGES casou no dia 16 de outubro de 1826 na Ermida das Dores de Aplicação dos Olhos d’Água, Queluz, MG, com GERTRUDES JOAQUINA DA SILVA, 16 anos, sendo celebrante o Padre Gonçalo Ferreira da Fonseca, proprietário da Fazenda Olhos D’Água, e responsável pela Capela onde se realizou o casamento; foram testemunhas Domingos da Cunha Lopes e Silvério José Pereira.

Registro de casamento de Francisco José Borges e Gertrudes Joaquina da Silva.
Fonte: Registros paroquiais de Conselheiro Lafaiete, disponível em familysearch.com.

"Aos dezesseis de outubro de mil oitocentos e vinte e seis na Ermida das Dores de Aplicação dos Olhos d’Água com provisão do Juízo Eclesiástico de São João, feitas as denunciações canônicas com licença minha, o Padre Gonçalo Ferreira da Fonseca assistiu e administrou o sacramento do matrimônio e conferiu as bênçãos nupciais na forma do ritual romano aos contraentes Francisco José Borges, filho legítimo de Francisco Lourenço Borges e Anna Rosa de Jesus, e Dona Gertrudes Joaquina da Silva, filha legítima do Capitão José Ferreira de Souza e Dona Vicência Joaquina da Silva, naturais batizados e moradores nesta freguesia de Queluz..."

Sua esposa, GERTRUDES JOAQUINA DA SILVA, homônima de sua avó materna, nasceu na Aplicação de Santo Amaro e foi batizada na Aplicação dos Olhos D’Água (6), filha do Cap. José Ferreira de Souza e Vicência Joaquina da Silva. Neta paterna de Francisco José Ferreira de Souza e Antonia Rita de Jesus Xavier, irmã caçula de Tiradentes; Neta materna do Cap. André Rodrigues Chaves e Gertrudes Joaquina da Silva. (7)
Censo de São Caetano de Paraopeba, 1831. Arquivo Público Mineiro.

FRANCISCO e GERTRUDES residiam em São Caetano de Paraopeba, MG, distrito de Queluz, MG, onde foram recenseados, em 1831: Francisco com 25 anos, branco, agricultor, ao lado sua mulher Gertrudes, branca, 21 anos. Com eles estavam duas filhas menores, Maria Joaquina, então com 3 anos, e Vicência Joaquina, com apenas 1 ano.

Nesse período, encontramos uma nota publicada no jornal O Universal, 28.10.1833, em que Francisco José Borges e muitos “amigos da Monarquia Constitucional, felizes pela recuperação do jovem Imperador...” mandam celebrar missa quando o jovem Imperador Pedro II, se restabeleceu após período de doença, publicando anúncio no jornal O Universal manifestando “o prazer que tiveram, logo que se soube com certeza, pelo Correio extraordinário, que a vida do jovem Monarca estava salva dos perigos que correra. Em consequência, pois, de uma tal notícia, os membros da Sociedade Promotora, aqui residentes, de acordo com alguns outros cidadãos, determinaram celebrar um Te Deum em ação de graças".

Assinam a publicação, dentre outros: o Tte. João Bento Pereira, José Antonio da Silva Rezende, Joaquim Tavares Diniz, o Furriel Luiz da Cunha Magalhães, Luis da Cunha Lobo, João Crisóstomo de Magalhães, Antonio Luis da Cunha, Manoel Rodrigues de Oliveira, Tent. João Lourenço Borges, Joaquim Antonio Pereira Caxeta, Cap. Luiz José da Cunha, João José Teixeira, Cap. Bento Lopes de Faria, Alferes Jacob Lopes de Faria.

Francisco José Borges: anúncio no jornal O Universal. 28.10.1833

III - DE QUELUZ PARA O ESPÍRITO SANTO DO POMBA, MG

Vila da Pomba. Pintura de Hermann Burmeister.

No início da década de 1840 vamos encontrar Francisco assentado na região do Pomba, MG. Seu nome é citado como "morador no Pomba", na Relação de Assinantes do livro "História da Revolução de Minas Gerais em 1842", publicado por Bernardo Xavier Pinto de Souza.

Francisco residia em Pomba em 1842, pois foi um dos assinantes do livro "História da Revolução Mineira em 1842", de Bernardo Xavier Pinto de Souza.

Cemitério, distrito de São Manoel do Pomba, MG: local onde se fixou Francisco José Borges 
na década de 1840.

O local onde Francisco José Borges fixou residência era então denominado “Cemitério”, depois “Divino Espírito Santo do Cemitério” e “Divino Espírito Santo”, pertencente à vila de São Manoel do Pomba, MG, atualmente a cidade de Guarani, na Zona da Mata mineira. 

No livro “Município de Guarani – Esboço Histórico e Cronológico”, escrito por Pedro de Abreu, consta que no “Cemitério”, em 1840,  "já havia fazendeiros convivendo com índios catequizados e de boa índole, trabalhando juntos no plantio de cereais e frutas." (8)
Ainda segundo Pedro de Abreu, Francisco José Borges era um dos “Irmãos Devotos” da Irmandade do Divino Espírito Santo, em 26.08.1849 que assinaram a Ata de fundação da primeira Capela:

Francisco José Borges assinou a ata de fundação da Capela do Divino Espírito Santo, em 1849. Fonte:“Município de Guarani – Esboço Histórico e Cronológico”, de Pedro de Abreu.

"Aos 26 dias do mês de agosto do ano de 1849, neste território denominado 'Cemitério', reunidos os Devotos do Divino Espírito Santo abaixo assinados para o fim de providenciar-se sobre alguns arranjos precisos para o progresso da Capela, compra de alfaias e mais utensílios. 

Propôs o devoto Luciano Coelho de Oliveira que sendo necessário o dispêndio de grande soma pecuniária para ocorrer a esta despesa julgava indispensável que o terreno da capela designado para patrimônio fosse aforado e repartido pelos Devotos que quisessem, sujeitando-se os mesmos ao pagamento anual...”(...)

“E para constar se lavrou esta ata que vai assinada pelos Mesários e Irmãos Devotos depois de lida por mim Joaquim Teixeira de Oliveira, secretário que a subscrevi e assino. 

Luciano Coelho de Oliveira, Joaquim Pires Mundim, Silvério José de Almeida Ramos, Laureano José Coutinho, Padre Carlos José Pereira de Andrade, Francisco Venancio de Almeida, Antonio Vieira de Souza, José Vicente Pires de Almeida, FRANCISCO JOSÉ BORGES, Manoel Carvalho de Oliveira, Joaquim Laureano José Coutinho, Domingos Mendes Peixoto, Manoel de Moraes Sarmento, Manoel Antonio Pimentel, Francisco do Couto Pereira, Zeferino José Ramos de Almeida." (grifo nosso) 

É importante destacar que entre os assinantes da Ata do dia 26.08.1849, consta o nome de Francisco do Couto Pereira (8), que mais tarde viria se fixar em Bom Jesus do Itabapoana, RJ, assim como os de alguns familiares de Manoel Rodrigues Costa, Jacinto Pereira da Silva, Joaquim Teixeira de Oliveira, Francisco Venâncio de Almeida e Zeferino José Ramos de Almeida, que também migraram para nossa região.

Livro “Município de Guarani: Esboço Histórico e Cronológico”, de Pedro de Abreu, 1991.

No mesmo livro, o autor transcreve o art.1º da Lei 663, datado de 1914, em que Francisco José Borges é citado como proprietário da Fazenda Sant’Ana, nos limites entre Guarani e Pomba, como segue:

Art. 1º - A divisa entre os municípios de Guarani e Pomba é fixada da seguinte maneira: partindo das divisas do Rio Novo, na cabeceira do Ribeirão Torneiros, do Guarani (...) daí sobe-se à esquerda em direção ao alto; acompanha-se a linha divisória das águas do dito ribeirão do Passa-Cinco com as do ribeirão do Passa-Cinco do Meio até o espigão divisor do dito Passa-Cinco com as do Rio Formoso; segue-se pelos altos da linha divisória das águas dos referidos Passa-Cinco e Formoso até o Rio Pomba; daí desce-se o Rio Pomba até a embocadura do ribeirão da Boa Vista, à sua esquerda; sobe-se até defrontar o espigão existente entre as fazendas de SANT’ANA, antiga de FRANCISCO JOSÉ BORGES, do Guarani, hoje propriedade de Francisco Furtado de Mendonça, e a fazenda do Acaba-Saco, de Emídio Alves Vieira, de Piraúba.” (grifo nosso)

Em sua Fazenda Sant'Ana, Francisco José Borges cultivava milho, arroz, feijão e café, e se dedicava à criação de porcos e um pouco de gado.

IV - A MORTE DE GERTRUDES JOAQUINA DA SILVA

 Inventário de bens de Gertrudes Joaquina da Silva. Coarpe - TJMG.

GERTRUDES JOAQUINA DA SILVA faleceu em 28 de maio de 1854 aos 44 anos, na Fazenda do Ribeirão de Sant’Ana, distrito do Cemitério, com testamento ditado em 14.12.1853. Nele declarou ser filha legítima de José Ferreira de Souza e Vicência Joaquina da Silva, nascida na Aplicação de Santo Amaro e batizada na Aplicação dos Olhos D’Água, moradora na Fazenda do Ribeirão de Sant’Ana, distrito de Cemitério; pertencer à Ordem Terceira de São Francisco, na cidade de Mariana; estar “gravemente enferma” e em “juízo perfeito”, determinando que seriam herdeiras de sua terça as sete filhas solteiras e que elas receberiam o que lhes tocar quando “estiverem para tomar estado”, ou quando seu marido julgasse conveniente. (9)

Certidão do testamento constante do Inventário de bens de Gertrudes Joaquina da Silva, pág 21. 1856. Coarpe - TJMG.

A seguir, o testamento de Gertrudes:

(...) sou filha legítima de José Ferreira de Souza e Vicência Joaquina da Silva, nascida na Aplicação de Santo Amaro e batizada nos Olhos D’Água. Declaro que sou casada com Francisco José Borges e desse matrimônio temos filhos. Declaro por meus testamenteiros, em primeiro lugar a meu genro Antonio Teixeira de Siqueira e em terceiro lugar a meu genro Francisco Theodoro de Oliveira, e deixo de prêmio ao que aceitar este meu testamento a quantia de cem mil reis, e o tempo de três anos para prestar contas em juízo.

Declaro que sou indigna irmã da Confraria de São Francisco, da Cidade de Mariana, e o meu testamenteiro pagará o que devo de entrada e remissão. Declaro que meu enterro será feito à disposição do meu testamenteiro, e assistirão ao meu enterro o meu Pároco e os Padres que se acharem, e darão Missas de corpo presente, e mais um oitavário cada um.

Declaro que feitas as minhas disposições, serão minhas herdeiras do restante da minha terça as minhas sete filhas solteiras, e estas receberão o que lhes tocar quando estiverem para tomarem estado, ou quando meu marido julgar conveniente, pois é esta a minha vontade, e peço as justiças do Império queiram dar por fim este meu testamento e disposição da minha vontade, e pedi ao Vigário José Ignacio da Silveira que por mim este escrevesse, sendo por mim dirigido, e por mim assinasse. Ribeirão de Santa Ana, 14 de dezembro de 1853. A rogo da testadora Gertrudes Joaquina da Silva, o Vigário José Ignacio da Silveira (10).

O Inventário dos bens deixados por Gertrudes Joaquina da Silva foi aberto em 01.09.1854, na Vila de São Manoel do Pomba, onde se encontra seu testamento. Como herdeiros estão relacionados os seguintes filhos: Maria Joaquina da Silva, casada com Antonio Teixeira de Siqueira, Vicência Joaquina da Silva, casada com Antonio Joaquim Leite, Pedro José Borges, solteiro, 22 anos, Ana Joaquina da Silva, casada com Francisco Theodoro de Oliveira, Antonia Joaquina da Silva, casada com Antonio Pereira de Azevedo, Maria das Dores Joaquina da Silva, casada com Joaquim José Pimentel, Valentina Joaquina da Silva, casada com José Camilo Ferreira de Souza, Feliciana Joaquina da Silva, 14 anos, Mafalda Joaquina da Silva, 12 anos, Antonio José Borges, 11 anos, Messias Joaquina da Silva, 10 anos, Verônica Joaquina da Silva, 9 anos, Maria Rita, uma ano de idade, falecida depois da morte da mãe.

Entre outros bens, estão relacionados uma casa na Fazenda do Ribeirão de Sant’Ana, no distrito do Divino Espírito Santo, uma casa na Vila de São Manoel do Pomba, 210 alqueires de terras, 5 mil pés de café, 180 arrobas de café, 100 alqueires de feijão, 26 escravizados, 20 carros de milho, 70 alqueires de arroz, 223 porcos, 16 cavalos, 9 bestas e 38 cabeças de gado; aparecem também crucifixos e rosários de ouro, colheres e garfos de prata. O total dos bens avaliados em 35:561$446.
(11)

V - OS FILHOS DE FRANCISCO JOSÉ BORGES e GERTRUDES JOAQUINA DA SILVA

FRANCISCO e GERTRUDES tiveram treze filhos, relacionados no Inventário de Gertrudes, encontrado no Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana. Além deles, encontramos o batismo de Francisco, provavelmente o primeiro filho do casal, sem informações, pode ter falecido criança.

1. FRANCISCO

2. MARIA JOAQUINA DA SILVA casada com ANTONIO TEIXEIRA DE SIQUEIRA
 
3. VICENCIA JOAQUINA DA SILVA casada com ANTONIO JOAQUIM LEITE 

4. PEDRO JOSÉ BORGES casado com MARIA ROSA DE NAZARETH 

5. ANA JOAQUINA DA SILVA casada com FRANCISCO THEODORO DE OLIVEIRA 

6. ANTONIA JOAQUINA DA SILVA casada com ANTONIO PEREIRA DE AZEVEDO 

7. MARIA DAS DORES JOAQUINA DA SILVA casada com JOAQUIM JOSÉ PIMENTEL 

8. VALENTINA JOAQUINA DA SILVA casada com JOSÉ CAMILO FERREIRA DE SOUZA 

9. FELICIANA JOAQUINA DA SILVA casada com ÂNGELO JOSÉ SOBREIRO

10. MAFALDA JOAQUINA DA SILVA casada com ANTONIO HERMÓGENES FERREIRA DE SOUZA

11. ANTONIO JOSÉ BORGES casado com BÁRBARA ROSA TEIXEIRA

12. MESSIAS JOAQUINA DA SILVA casada com ANTONIO RODRIGUES DE SOUZA 

13. VERONICA JOAQUINA DA SILVA casada com GERVASIO RODRIGUES DE SOUZA

14. MARIA RITA, um ano de idade em 1854, falecida depois da morte da mãe.

VI - 2º CASAMENTO - FRANCISCO JOSÉ BORGES E ANA ROSA TEIXEIRA

FRANCISCO JOSÉ BORGES, após a morte da primeira esposa, casou pela segunda vez com ANA ROSA TEIXEIRA, viúva de Antonio Pinto Ribeiro, que teve cinco filhos com o primeiro marido: Bárbara Borges Ribeiro, Maria de Nazareth Teixeira, Antonio Pinto Ribeiro, Ana Rosa Teixeira e Felicíssima Teixeira. ANA ROSA TEIXEIRA era filha de Francisco Teixeira de Siqueira e de sua mulher Felicíssima Rosa d’Oliveira, moradores no Ribeirão do Tejuco, Vila de São Manoel do Pomba, MG. Neta paterna de Antonio Teixeira de Siqueira e Maria Angélica de Almeida. Neta materna de Domingos de Magalhães Pereira e Rosa Maria de Oliveira.

Não temos a data do casamento. Como a data da morte de Gertrudes foi em 28.05.1854 e o primeiro filho do casal foi batizado em 06.05.1855, o casamento pode ter ocorrido entre junho e agosto de 1854. Ana Rosa era cunhada de Maria Joaquina, filha de Francisco, o que deve ter favorecido a rápida união entre os viúvos Francisco e Ana Rosa, reforçando ainda mais o entrelaçamento das famílias Borges e Teixeira.

Em 1856 Francisco José Borges registra 140 alqueires de terras em comum com seus filhos, e também 50 alqueires dos filhos órfãos, no Distrito do Divino Espírito Santo, termo da Vila da Pomba. As terras têm como confrontantes seu genro Antonio Joaquim Leite, Miguel Correia Leite, Antonio Joaquim Ferreira, José Ferreira, Joaquim Antonio da Motta, José Rodrigues Condé e José Luiz Miranda. (12)

Registro Paroquial de terras em São Manoel de Pomba, MG. Arquivo Público Mineiro.

"Eu, abaixo assinado Francisco José Borges, sou senhor e possuidor de uma porção de terras de cultura em comum com meus filhos, que levam de planta de milho cento e quarenta alqueires mais ou menos e assim mais cinquenta alqueires de meus filhos órfãos, sita no largo de Santa Ana, Distrito do Divino Espírito Santo, termo da Vila da Pomba, cujo terreno confronta com Antonio Joaquim Leite, Miguel Correia Leite, Antonio Joaquim Ferreira, José Ferreira e Maria Ferreira, e Joaquim Antonio da Motta, José Rodrigues Condé, e D. Ana Maria de Jesus, e José Luiz Miranda, assim mais sete alqueires mais ou menos a Fazenda de D. Ana Maria de Jesus, que confronta com José Rodrigues Condé, Felisberto Pinto Barbosa e José Pinto Barbosa e D. Joana Lopes e José Luiz de Miranda. E para constar passo este em duplicata por mim feito e assinado. Córrego de Santa Ana, vinte e três de Fevereiro de 1856. Francisco José Borges. (10)

Na mesma data, como tutor dos filhos menores do primeiro marido de Ana Rosa, Francisco registra 15 alqueires de terras no Ribeirão de São Manoel, distrito do termo da Vila da Pomba.

“Eu abaixo assinado, sendo tutor dos filhos do finado Antonio Pinto Ribeiro, (...) e bem assim uma porção de terras de cultura que levam de planta de milho 15 alqueires mais ou menos, sitas no Ribeirão de S. Manoel, distrito do termo da Vila da Pomba." E para constar passo este em duplicata por mim feito e assinado. Córrego de Santa Ana, vinte e três de Fevereiro de 1856.Francisco José Borges. 

No dia 26 de janeiro de 1859 Francisco José Borges e seus cunhados João, Custódio, Joaquim, Felisberto e Francisco Teixeira de Siqueira e outros cidadãos, inconformados com a transferência do médico Francisco de Paula Alvarenga, de Pomba para Mar de Espanha, fazem uma representação pedindo para que ele permaneça no local, publicada em 23.02.1859 no Jornal do Comércio (RJ).

Francisco José Borges: pedido para que o médico Dr. Francisco de Paula Alvarenga permaneça em Pomba. 23.02.1859. Jornal do Comércio.

FRANCISCO JOSÉ BORGES decide migrar para a Província do Rio de Janeiro. Que motivos teriam levado Francisco a decidir partir de Minas Gerais e fixar-se no Vale do Itabapoana? As terras férteis para produção de café já haviam levado muitas famílias mineiras a se estabelecer na região. Duas de suas filhas com Gertrudes Joaquina da Silva se encontravam no local: Maria Joaquina da Silva, casada com Antonio Teixeira de Siqueira (16) e Ana Joaquina da Silva, casada com Francisco Theodoro de Oliveira. (17) Além disso, Francisco Teixeira de Siqueira, pai de Ana Rosa, possuía terras na região que, após o seu falecimento, em São Manoel do Pomba, foram transmitidas aos seus filhos. Compradas do Alferes Francisco da Silva Pinto, as terras ainda estavam sendo pagas, sendo descritas assim na relação de bens do Inventário:

“- Uma sorte de terras de cultura situada na Fazenda na Barra do Itabapoana, distrito de Bom Jesus, Ribeirão do Pirapetinga, em comum com Antonio Teixeira de Siqueira e Francisco Teixeira de Siqueira, e bem assim uma porção de telhas e outra de tábuas, e metade de uma casa térrea ordinária coberta de telhas, e de um moinho coberto de telhas, tudo avaliado na quantia de 3 contos e 200 mil reis” além de “metade de valor de uma porção de gado existente na dita fazenda, na quantia de 220 mil reis.” (13) 

Quando a viúva Felicíssima Rosa de Oliveira faleceu, no Inventário dos bens deixados essas terras são assim declaradas: 

Quarta parte da Fazenda de terras e culturas situada na Barra do Itabapoana, distrito do Senhor Bom Jesus, Ribeirão do Pirapetinga, termo da cidade de Campos dos Goitacazes, Província do Rio de Janeiro, cuja quarta parte desta fazenda acha-se em comum os mesmos herdeiros da inventariada". (14)

Como última notícia encontrada sobre Francisco José Borges e Ana Rosa Teixeira, em terras mineiras, temos, aos 25 de maio de 1859, em São Manoel do Pomba, MG, uma declaração do casal desistindo do usufruto dos bens de raiz que couberam em partilha à herdeira Maria Rita da Silva, falecida depois da morte da mãe (Gertrudes), em favor dos filhos do primeiro casamento. 

“Aos 25 do mês de maio do ano de 1859, nesta cidade do Pomba, em meu Cartório  compareceram perante o Suplicante Francisco José Borges e sua segunda mulher, D. Ana Rosa Teixeira, e por eles, perante duas testemunhas, me foi dito que são usufrutuários dos bens que coube em partilha à herdeira Maria Rita da Silva, falecida depois da morte de sua mãe d. Gertrudes Joaquina da Silva, e desta herança, isto é, somente quanto aos bens de raiz, fazem desistência do usufruto que a Lei lhes permite nas pessoas dos filhos do primeiro casal, quais, Maria Joaquina, Vicência, Pedro, Ana, Antonia, Maria das Dores, Valentina, Feliciana, Mafalda, Antonio, Messias e Verônica, e isto com igualdade, reservado para suas pessoas o usufruto dos bens móveis e semoventes..." (12)

VII - A VINDA DA FAMÍLIA BORGES PARA O ARRAIAL DO SENHOR BOM JESUS DO ITABAPOANA: 1859

Família Borges: De Minas Gerais para Bom Jesus do ItabapoanaSituado às margens do rio Itabapoana, o antigo arraial do Sr. Bom Jesus faz divisa com a Província do Espírito Santo, e próximo da divisa com a Província de Minas Gerais. .

No ano de 1859, deixando Minas Gerais, aos 43 anos, Francisco José Borges parte do distrito do Divino Espírito Santo do Pomba, MG, em direção ao arraial do Senhor Bom Jesus do Itabapoana, então pertencente à freguesia de Santo Antonio de Guarulhos, Campos dos Goitacazes, RJ, noroeste da Província do Rio de Janeiro e sul da Província do Espírito Santo. A região, ocupada por colonizadores mineiros em busca de terras férteis para cultivo de cana-de-açúcar e café, contava com uma subdelegacia de polícia, uma Capela e um capelão remunerado pelos fazendeiros, que cultivavam grande quantidade de café. (16)

A viagem certamente foi longa, percorrendo as densas matas que cobriam a região, admiradas pelo médico naturalista mineiro Manoel Basílio Furtado, que percorreu a freguesia do Sr. Bom Jesus em direção às Minas do Castelo: “As suas matas são magníficas e contêm ricas madeiras de construção e de marcenaria, sobressaindo dentre elas o ipê-peroba, o pau-ferro, o jacarandá de diferentes cores, a violeta, o vinhático, o cedro(17) 

Francisco José Borges chega ao Vale do Itabapoana com a esposa Ana Rosa Teixeira, os filhos do casal, ainda menores: Francisco José Borges Filho (4 anos), Tereza (3 anos) e Emília (2 anos), e alguns filhos dos casamentos anteriores. Ali nasceria seu filho Gervásio José Borges. Estabeleceram-se no local denominado Braúna, em terras abrangendo os córregos Braúna, Leite e Mirindiba, próximo à Barra do Pirapetinga.


Francisco José Borges fixou-se próximo aos córregos Braúna, Mirindiba e Leite. 
Recorte mapa bndigital.bn.gov.br

O memorialista Padre Antonio Francisco de Mello, em "Padre Mello Prosa e Verso", escreve:

Vimos que veio de Minas, penso que de Pomba, Francisco José Borges, progenitor de Francisco José Borges Filho que, octogenário, ainda vive entre nós como já vimos, ativo e aprumado, gozando em saúde o prêmio de sua morigerada mocidade. Veio este senhor em 1859, com cerca de quatro anos, em companhia de seu pai, que se estabeleceu nas águas já reunidas dos três córregos Braúna, Leite e Mirindiba”. (18)

Francisco era “homem de grande atividade”, e logo fez surgir lavoura “da espessa mataria que derrubara”. Assim se refere a ele Padre Mello em seus artigos “Primórdios de Bom Jesus”. (19)

Francisco José Borges e Ana Rosa Teixeira viviam numa "casa de vivenda" da Fazenda Bom Retiro, onde havia paiol, moinho, além de pastos. A propriedade se estendia por 300 alqueires de terras, com 30 mil pés de café, com rendimento de 650 arrobas de café. (20)

As terras de Francisco José Borges confrontavam com os Teixeira de Siqueira, na Barra do Pirapetinga, onde havia comércio de produtos e animais, e constante movimentação de tropeiros. O local contava com uma estrada construída e mantida pela administração provincial (21). Essa estrada ia da barra do riacho Pirapetinga, confluente do rio Itabapoana, e seguia pela margem direita até o porto de Limeira, no município de S. João da Barra, RJ, sendo a única via dos fazendeiros e lavradores para o transporte de seus produtos para o porto de Limeira. A estrada da Barra seguia também ao arraial de Natividade do Carangola, RJ, a Santa Luzia do Carangola, MG e ao Ribeirão da Onça, na divisa da Província de Minas. (22)

FRANCISCO JOSÉ BORGES foi fazendeiro de café, constando como “cafelista  e cabiunista” no Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro de 1860 para o ano de 1861, dentre os 33 fazendeiros do Curato do Senhor Bom Jesus do Itabapoana.

Almanak 1865

Almanak 1865

Em 1865 a freguesia do Senhor Bom Jesus já tinha 69 fazendas de café, segundo o Almanak Laemmert, era crescente o número de fazendeiros de café familiares de Francisco José Borges, constando os nomes de Pedro José Borges (filho), Francisco Theodoro de Oliveira, Joaquim Antonio Pimentel (genros), Gervásio Ferreira de Souza (cunhado), Francisco Teixeira de Siqueira e José Teixeira de Siqueira (cunhados) no Almanak Laemmert de 1865.

Quase todos os fazendeiros têm canaviais, porém ainda não chega para a exportação. Plantam tudo quanto precisam para sua família e escravaturas. A fertilidade das terras e abundância das colheitas fazem esperar um próspero futuro a esta freguesia, que por ora se limita só a exportar algum toucinho e café, por causa de sua má estrada ao porto de embarque, que dista 15 léguas”. (23)

Em 1864, quando Carlos Pinto de Figueiredo organizou a Companhia de Navegação a Vapor Itabapoana, Francisco José Borges foi um dos que compraram ação da Companhia. (24)

A MORTE DE ANA ROSA TEIXEIRA

Inventário dos bens de Ana Rosa Teixeira, 1868. Arquivo Municipal de Campos dos Goytacazes.

Aos 15 de janeiro de 1867 faleceu Ana Rosa Teixeira, na freguesia do Sr. Bom Jesus do Itabapoana. O viúvo Francisco abriu o Inventário dos bens do casal no dia 24.07.1868 na Vila de São Salvador de Campos dos Goitacazes, RJ. Como inventariante, declara que a esposa deixou cinco filhos de seu primeiro casamento com Antonio Pinto Ribeiro, e que do segundo casamento, deixou quatro filhos, qualificados da forma seguinte em 24.07.1868:

Filhos do primeiro casamento com Antonio Pinto Ribeiro: Maria de Nazareth, casada com Pedro José Borges, Bárbara Rosa Teixeira, casada com Antonio José Borges, Ana Rosa Teixeira, casada com Tertuliano Rodrigues de Souza e 2ª vez, em 1879, com Francisco Severino Teixeira, Antonio Pinto Ribeiro, solteiro, que se casou mais tarde com Gertrudes Joaquina da Silva, e Felicíssima Rosa Teixeira, casada com Ricardo Joaquim Leite.

Filhos do segundo casamento com Francisco José Borges: Francisco José Borges, solteiro, de 14 anos, Teresa Umbelina Teixeira, solteira, de 12 anos, Emília, de 9 anos, e Gervásio, de 7 anos.

Entre outros, o Inventariante declara os seguintes bens: uma casa de vivenda e pastos, uma casa de paiol de milho, uma casa no arraial do Bom Jesus, 14 escravizados, 300 alqueires de terras, 30 mil pés de café, rendimento de 650 arrobas de café, bois, cavalos e cabras, 69 cabeças de porcos, e uma ação da Companhia de Navegação a Vapor Itabapoana. As dívidas ativas, decorrentes de empréstimos a parentes (genros, etc) no valor de 5 contos de reis; O total de bens foi avaliado em 43:554$960 (43 contos, 554 mil e 960 reis.
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VIII - OS FILHOS DE FRANCISCO JOSÉ BORGES e ANA ROSA TEIXEIRA:

15. FRANCISCO JOSÉ BORGES FILHO casado com ELIZENA PETRONILHA DE JESUS

16. TERESA ROSA TEIXEIRA também TERESA UMBELINA casada com DOMICIANO FERREIRA DOS SANTOS

17. EMILIA ROSA TEIXEIRA casada com WENCESLAU JOSÉ FERREIRA DE SOUZA

18. GERVASIO JOSÉ BORGES casado com CARLOTA FERREIRA DOS SANTOS


IX - 3º CASAMENTO - FRANCISCO JOSÉ BORGES E MARIA CAROLINA MARQUES DE OLIVEIRA

Viúvo, aos 60 anos, com quatro filhos menores entre seis e treze anos de idade, FRANCISCO casa pela terceira vez, com MARIA CAROLINA DE OLIVEIRA, solteira, 36 anos, residente em Patrocínio de Muriaé, MG, onde provavelmente ocorreu o casamento. Não foi possível encontrar o registro de casamento de Francisco e Maria Carolina, mas é possível deduzir que tenha ocorrido por volta de 1868, pela data do nascimento do primeiro filho do casal, Anacleto José, por volta de 1869, em Patrocínio de Muriaé.

MARIA CAROLINA, filha de Anacleto Elias de Oliveira e Françoise Béatrice Marquis, nasceu aos 21.05.1832 na Vila de Nova Friburgo, RJ; neta paterna do Cap. Manoel Francisco de Oliveira e Anacleta Maria de Siqueira, naturais da Vila de Queluz, MG; neta materna de Henri Marquis e Marie Josette Gobett, naturais do Cantão de Friburgo, bispado de Laudanne, Suíça. (Igreja Matriz de São João Baptista, contribuição de Celso Kropf).
 

Nova Friburgo, onde nasceu Maria Carolina Marquis de Oliveira. .
Aquarela Steinmann,

Os pais de MARIA CAROLINA, Anacleto Elias de Oliveira e Françoise Béatrice casaram aos 21.08.1831, na Igreja Matriz de S. João Baptista, Vila de Nova Friburgo, RJ, sendo testemunhas Dr. João Bazet, Henri Marquis e Medelino Francisco d'Oliveira. Anacleto nasceu e foi batizado em Queluz, MG, filho legítimo de Manoel Francisco de Oliveira e Anacleta Maria de Oliveira. Françoise Béatrice nasceu e foi batizada no Cantão de Fribourg, Bispado de Laudanne, na Suíça, filha de Henrique Marquis e Josefa Gobbet. (Igreja Matriz de São João Baptista, contribuição de Celso Kropf) 

A mãe de Maria Carolina, minha trisavó Françoise Béatrice, veio para o Brasil aos 7 anos, em 1819, com pais e irmãos, no vapor Urânia, na grande imigração suíça para a Vila de Nova Friburgo, RJ. O Urânia saiu da Holanda aos 12.09.1819, sob o comando do capitão Bock, trazendo 437 colonos, vindos do Cantão de Fribourg, levando 80 dias de viagem.(26)

Em 1858, o pai de Maria Carolina, Anacleto Elias de Oliveira, era fazendeiro de café na Freguesia de São José do Ribeirão, Nova Friburgo, RJ.  

Destaques em vermelho: Serra do Gavião, Patrocínio de Muriaé, MG e Bom Jesus do Itabapoana.  
Em 1864 Anacleto Elias comprou de Evaristo Rodrigues Campos a fazenda Barra do Gavião,
 Mapa organizado por A.N. Tolentino, 1858-1861. Fonte: Da Aventura Pioneira ao Destemor à Travessia, Paulo Mercadante.

Em 1864 Anacleto Elias comprou de Evaristo Rodrigues Campos a fazenda Barra do Gavião (27) e mantinha negócios com Francisco José Borges, considerado um dos grandes negociantes de Patrocínio de Muriaé, segundo José Torres, em seu livro Muriaé Migrante, pág 37.  
Provavelmente, numa das viagens pela região, Francisco veio a conhecer a futura esposa, filha de Anacleto. Quando este faleceu, foi inventariado em 06.05.1870 pela viúva Francisca Beatriz. Ela faleceu aos 78 anos, no dia 07.08.1889 na freguesia do Sr. Bom Jesus do Itabapoana.

X - A MORTE DE FRANCISCO JOSÉ BORGES

Faleceu FRANCISCO JOSÉ BORGES por volta de 1876, com cerca de 76 anos, provavelmente, em sua propriedade, a Fazenda Bom Retiro, na Braúna, na freguesia do Sr. Bom Jesus do Itabapoana. Infelizmente, o inventário dos bens de Francisco não foi localizado, apesar das várias pesquisas efetuadas. O Edital publicado no jornal Monitor Campista em 26.06.1877 indica ter sido aberto o inventário no Juízo de Campos dos Goitacazes, sendo Maria Carolina a inventariante.


Edital Inventário dos bens de Francisco José Borges. 
Edital publicado no jornal Monitor Campista, 26.06.1878.

Aos 19.12.1877 a filha de Francisco, Teresa Umbelina e seu marido Domiciano Ferreira dos Santos, residentes na freguesia de Porto de Santo Antonio, MG, passam procuração a Antonio José Borges e Antonio Rodrigues de Souza, residentes na freguesia do Sr. Bom Jesus do Itabapoana, para requerer o Inventário dos bens deixados pelo pai e sogro Francisco José Borges. (Livro de Notas de Porto de Santo Antonio, 1875-1877. Contribuição de Joana Capella).

MARIA CAROLINA BORGES casou segunda vez no dia 20 de setembro de 1882. Com cerca de 60 anos, ela se uniu ao viúvo Antonio Teixeira de Siqueira, após obter dispensa do impedimento de “cognição espiritual”. Antonio era genro de seu primeiro marido. Sem geração. Antonio faleceu aos 85 anos, em 08.04.1906. Maria Carolina faleceu alguns meses depois, de lesão cardíaca, em Bom Jesus do Itabapoana, 10º distrito de Itaperuna, RJ, em 17.10.1906, aos 73 anos de idade, 

"Aos quinze dias do mês de novembro do ano de mil novecentos e seis, nesta freguesia do Sr. Bom Jesus do Itabapoana, décimo distrito do município de Itaperuna, compareceu em meu Cartório Anacleto José Borges, negociante, residente neste distrito e declarou: Que no dia17 de outubro do corrente ano, às dez horas da noite, faleceu neste distrito, de uma lesão cardíaca, sua mãe, D. Maria Carolina Borges, viúva de Antonio Teixeira de Siqueira, brasileira, com setenta e três anos de idade. Deixou três filhos, de nomes Anacleto José Borges, com trinta e sete anos de idade; Ernesto José Borges, com trinta e cinco anos; e Messias José Borges, com trinta e três anos de idade. Não deixou testamento e foi sepultada no cemitério público deste arraial". (28) 

XI - OS FILHOS DE FRANCISCO JOSÉ BORGES e MARIA CAROLINA OLIVEIRA BORGES

19. ANACLETO JOSÉ BORGES casado com MARIA LEOPOLDINA TEIXEIRA

20. ERNESTO JOSÉ BORGES
casado com MINERVINA TEIXEIRA

21. MESSIAS JOSÉ BORGES
casado com FRANCISCA PEREIRA DOS SANTOS


FRANCISCO JOSÉ BORGES teve o sonho de prosperar. Nascido na antiga vila de Queluz, MG, pudemos contar um pouco do percurso seguido por ele, que fixou-se no distrito do Divino Espírito Santo do Pomba, MG e, buscando dias melhores para sua família, mudou-se novamente, desta vez para a Província do Rio de Janeiro, trazendo esposa, filhos e grande parte do seu grupo familiar para Bom Jesus do Itabapoana. Almejou e conseguiu um futuro promissor em terras bonjesuenses, onde viveu até o final de sua vida. Por quase vinte anos a partir de sua chegada a essas terras, Francisco contribuiu para o desenvolvimento e progresso de Bom Jesus.

À época em que Francisco morreu, a freguesia do Sr. Bom Jesus do Itabapoana contava com 51 casas, sendo 4 de sobrado e 50 térreas, uma pequena Igreja que serve de Matriz, e uma outra, de pedra e cal, em construção. Era, na época, “lugar sadio, cortado de regatos, com extensão de 15 léguas, abundantes de terrenos apropriados ao café”, e com mais de 3000 habitantes”, laboriosos e incansáveis na plantação do café, exportando para o Porto da Limeira mais de 500 mil arrobas de produtos, por uma estrada que saía da Barra do Pirapetinga". (29)

Francisco almejou e conseguiu um futuro promissor em terras bonjesuenses, onde viveu até o final de sua vida, deixando em nossa região a influência das tradições religiosas da devoção ao Espírito Santo, cheias de encanto e de beleza, trazidas pelo pai, o açoriano Francisco Lourenço Borges, nascido há exatos 260 anos na Ilha Terceira.

Assinatura de Francisco José Borges.
Divino Espírito Santo do Pomba, MG. 1854.


***


Texto de Claudia Martins Borges Bastos do Carmo
Pesquisa: Maria Cristina Borges e Claudia M. Borges Bastos do Carmo



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Referências:

(1) IGREJA Matriz de Santo Amaro. Disponível em: 
http://www.projetocompartilhar.org/Familia/BentoJosePereira.htm

(4) TESTAMENTO Francisco Lourenço Borges. Disponível em:
 http://www.projetocompartilhar.org/DocsMgAF/franciscolourencoborges1824.htm

(5) CORRÊA, Márcio Xavier. Memória sobre a economia extrativa da poaia – leste de Minas Gerais (primeira metade do século XIX). https://www2.ufjf.br/ppghistoria//files/2012/04/M%c3%a1rcio-Xavier-Correa.pdf

(6) COARPE - TJMG. 
Testamento de Gertrudes incluso no jnventário de seus bens.

7 - http://www.projetocompartilhar.org/Familia/cap02AntoniadaEncarnacaoXavier.htm

(8) ALMANAK Laemmert, Província do Estado do Rio de Janeiro

(9) COARPE - TJMG. Testamento de Gertrudes incluso no jnventário de seus bens.

(10) 
COARPE - TJMG. Testamento de Gertrudes incluso no jnventário de seus bens.

(11) 
COARPE - TJMG. Inventário dos bens de Gertrudes. 

(12)ARQUIVO Público Mineiro, Terras públicas Vila São Manoel do Pomba. Disponível em:
 http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/terras_publicas/brtacervo.php?cid=274&op=1

(13) PARTILHA de bens de Francisco Teixeira de Siqueira. Cartório Rio Pomba.

(14) 
COARPE - TJMG. Inventário de bens de Felicíssima Rosa Teixeira. 

(15) 
COARPE - TJMG. Inventário de bens de Gertrudes Joaquina da Silva. 

(16) ALMANAK Laemmert. Província do Rio de Janeiro. 1858.

(17) FURTADO, Manoel Basílio. “Itinerário da Freguezia do Senhor Bom Jesus do Itabapoana à Gruta das Minas do Castello", Editora Essentia. https://editoraessentia.iff.edu.br/index.php/livros/article/view/7014

(18) MATTOS, Delton de, organizador. Padre Mello Prosa e Verso, pág. 63, XII. 2005.

(19) MATTOS, Delton de, organizador. Padre Mello Prosa e Verso.

(20) ARQUIVO 
Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho, Campos dos Goitacazes. Inventário dos bens de Ana Rosa Teixeira. 1868. 

(21) CORREIO MERCANTIL, Rio de Janeiro. 09.11.1865 .

(22) ANAIS DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO RIO DE JANEIRO. 09.10.1885.

(23) ALMANAK Laemmert, Província do Rio de Janeiro.1865.

(24) 
ARQUIVO Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho, Campos dos Goitacazes. Inventário dos bens de Ana Rosa Teixeira. 1868. 

(25) 
ARQUIVO Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho, Campos dos Goitacazes. Inventário dos bens de Ana Rosa Teixeira. 1868.  

(26) JACCOUD, Raphael Luiz de Siqueira. Histórias, Contos e Lendas da Velha Nova Friburgo, pág.402

(27) TORRES, José. Muriaé Migrante, pág 62.

(28) CARTÓRIO 1º Ofício, de Bom Jesus do Itabapoana, RJ. Livro de registro de óbitos. 1906. 

(29) ALMANAK Laemmert, Província do Rio de Janeiro.1877.






Um comentário:

  1. Claudia e Maria Cristina: estou encantada com o trabalho de vocês. Muito bem estruturado, traz conexões até então desconhecidas. Tive grande prazer em conhecer e já o recomendei para os amigos. Parabéns!

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