quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Francisco José Borges e a Festa do Divino Espírito Santo

Francisco José Borges e seu genro Antonio Teixeira de Siqueira promoveram a Festa do Divino Espírito Santo no dia 16 de maio de 1875. Jornal Gazeta de Campos. 30.05.1875

Num precioso anúncio publicado no jornal Gazeta de Campos encontramos Francisco José Borges e seu genro Antonio Teixeira de Siqueira como sendo os promotores da Festa do Divino Espírito Santo em Bom Jesus do Itabapoana, RJ, no dia 16 de maio de 1875. Até onde pesquisamos, trata-se da mais antiga fonte primária abordando nossa maior tradição religiosa.

"Festa do Espírito Santo do Bom Jesus de Itabapoana

Comunicam-nos o seguinte:

Teve lugar nesta Freguesia, no dia 16 do corrente mês, às expensas do povo e promovida pelos fazendeiros os Ilms. Srs. Antonio Teixeira de Siqueira e Francisco José Borgesa festa do Divino Espírito Santo, com toda a solenidade. Não é a primeira vez que o sr. Antonio Teixeira tem provado sua dedicação ao culto divino, para o que não poupa sacrifícios. 

Em uma freguesia nova e ainda de pequena população, como é a do Bom Jesus de Itabapoana, foi de agradável surpresa a concorrência de anjinhos, virgens e devotos, o que foi além de 1.000. 

O Reverendo Vigário, o Ilmo. Sr. José Guedes Machado, fez tudo quanto de sua parte foi possível para brilhantismo da festa. 

Oficiou o Reverendo Padre Comendador Joaquim Rodrigues da Fonseca Leitão, auxiliado pelo Reverendo Padre João Mendes Ribeiro e respectivo pároco o sr. Guedes. 

A música, regida pelo professor Manoel Fortunato Barbosa, esteve na altura dos melhores músicos do Rio de Janeiro, pois composta de diversos professores, entre os quais se distinguiram o muito talentoso maestro Pedro Ricardo de Sant'Anna e o não menos hábil professor Antonio Gonçalves Barroso Sobrinho, não era possível deixar de agradar.  

Procedendo-se à eleição, deu o seguinte resultado dos membros que devem fazer a Festa do ano de 1876: 

Imperador, o Ilmo. sr. José Carsoso d'Azevedo Lima; Alferes de Bandeiras, o Ilmo. Sr. Domingos Nunes de Moraes; Mordomo de Mastro, o Ilmo. Sr. Francisco Teixeira de Siqueira; Mordomo da Praça, o Ilmo. Sr. José Joaquim Nunes."

Jornal Gazeta de Campos, 30.05.1875

Até hoje, as informações que tínhamos sobre a relação de Francisco José Borges com a Festa do Divino Espírito Santo em Bom Jesus, eram as publicadas pelo historiador e Padre açoriano Antonio Francisco de Mello, que aqui chegou em 1899 e colheu informações sobre os mais antigos habitantes.

No artigo anterior (aqui), vimos que Francisco José Borges foi membro da Irmandade do Espírito Santo e um dos fundadores, em 1849, da primeira Capela do distrito do Espírito Santo de Pomba, freguesia de São Manoel do Pomba, MG, onde morava, antes de migrar com a família para a freguesia do Senhor Bom Jesus do Itabapoana, RJ.

Segundo Padre Mello, Francisco José Borges possuía “grande religiosidade, peculiar ao povo de Minas(1) e "trouxe consigo esta mesma admirável Coroa do Divino, que é objeto sagrado do culto religioso bonjesuense” (2) e “de combinação” com o genro Antonio Teixeira de Siqueira, seu genro e cunhado, "lançou as bases da devoção do Divino Espírito Santo” em Bom Jesus do Itabapoana.

Em seus artigos “Primórdios de Bom Jesus” (3), Padre Mello assim afirmou:

“O velho Francisco José Borges era homem de grande atividade e tenazmente dedicado à lavoura que em pouco tempo fez surgir da espessa mataria por ele derrubada. O amor e o aferro aos trabalhos rudes do campo não lhe diminuíam o sentimento religioso, antes, com este e por este, tornava-se mais intenso e frutífero”. (4)

Ainda segundo Padre Mello, Francisco pôde contribuir com donativo para a compra de opas da Irmandade do Santíssimo, recém organizada para administrar o Patrimônio:

“Francisco José Borges, pai do também Francisco José Borges, há pouco falecido em Bom Jesus, e chegado a estas paragens em 1859, ano em que se reuniram os onze doadores já em tempo mencionados que viriam salvar o Patrimônio das mãos do herdeiro de Neném. Por isso mesmo consta que ele tenha concorrido para a aquisição desses terrenos do Patrimônio, mas é bem provável que o seu donativo fora para a compra de opas da Irmandade do Santíssimo que nessa ocasião foi organizada a conselho de um advogado de Campos, com a finalidade de administrar o Patrimônio. O filho, o velho Chico Borges, conforme vulgarmente era conhecido, que tinha então quatro anos, dizia-me que seu pai entrara com 50.000 reis da mesma maneira que sempre eram os seus donativos, nem mais nem menos”.

 “Foi em virtude dessa religiosidade, tão peculiar àquele povo de Minas, que ele (Francisco José Borges) de combinação com Antonio Teixeira de Siqueira, já possuidor da Fazenda da Barra, lançou as bases da Devoção do Divino Espírito Santo. Seria isto pelos anos de 1860 a 1862. A devoção, porém, não consistia apenas em atos de piedade no recinto do templo, que era então a Capela de Santa Rita. Desde o início revelava-se em uma Festa mais ou menos solene, com a sua procissão em que avultava a Coroa, esta mesma que temos visto não só nas procissões mas antes de figurar no andor entronizada em diversos lares. Já também se distribuíam esmolas pelos mais pobres do lugar. Na procissão figurava também o “imperador” com sua coroa. É a pequena coroa que também temos visto por ocasião da Festa, ora na cabeça ora nas mãos do pequeno “imperador”. Enfim, a Festa do divino começou mais ou menos como a vemos atualmente, com a diferença das entronizações e do respectivo hino. (5)


A Coroa e o Cetro da Festa do Divino Espírito Santo, trazidos de Minas Gerais para Bom Jesus do Itabapoana em meados dos século XIX se encontram hoje guardados no interior da Igreja do Senhor Bom Jesus do Itabapoana, e foram tombados em 2022 como Patrimônio Cultural material do município. (6)

A Coroa do Divino, o Cetro e a Coroa do Imperador guardados no interior da Igreja do Senhor Bom Jesus do Itabapoana. (7) 

A Festa do Divino Espírito Santo se mantém viva em Bom Jesus do Itabapoana e é comemorada anualmente no mês de agosto, sendo a nossa mais antiga festividade religiosa. (8) Em 2024 os festejos já tiveram início e seguem até o dia 15 de agosto, quando acontece um dos momentos mais importantes, que é a coroação do menino Imperador.

A Coroa, o Cetro e a Bandeira, principais símbolos da Festa do Divino Espírito Santo, solenemente expostos na Igreja do Senhor Bom Jesus do Itabapoana. 
Facebook da Paróquia, 04.08.2024.



Continuação de: https://familiaborgesbomjesus.blogspot.com/2024/05/francisco-jose-borges-de-minas-gerais.html


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Referências:

(1) MELLO, Padre. Prosa e Verso - um gênio da civilização e da cultura, pág. 64 XII, Delton de Mattos. Rio de Janeiro: Textus, 2005.

(2) MELLO, Padre. Prosa e Verso - um gênio da civilização e da cultura, pág. 90, Delton de Mattos. Rio de Janeiro: Textus, 2005.

(3) Artigos publicados no jornal A Voz do Povo.

(4) MELLO, Padre. Prosa e Verso - um gênio da civilização e da cultura, pág. 64 XII, Delton de Mattos. Rio de Janeiro: Textus, 2005.

(5) MELLO, Padre. Prosa e Verso - um gênio da civilização e da cultura, pág.64 XII, Delton de Mattos. Rio de Janeiro: Textus, 2005.

(6) Projeto de lei nº 030/2022. Disponível em:  https://www.bomjesus.rj.gov.br/arquivos/legislacao/30_2022_pl30.pdf

(7) Festa do Senhor Bom Jesus e da Coroa do Divino. Disponível em: https://onortefluminense.blogspot.com/2018/07/festa-do-senhor-bom-jesus-e-da-coroa-do.html

(8) Festa de Agosto, a Festa do Divino Espírito Santo em Bom Jesus do Itabapoana. Disponível em: 

https://tonioborges.blogspot.com/2023/08/festa-de-agosto-festa-do-divino.html?q


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